O currículo escolar conforma o raciocínio de uma criança; é um dispositivo
que altera (pode alterar) a mente. Simboliza (e procura circunscrever) todo o
conhecimento que os adultos acreditam ser mais importante para os jovens,
aquilo que se considera mais importante para se ser melhor. Diz ao jovem
que competências humanas devem ser possuídas. Permite às crianças,
(ou impede), um conjunto de oportunidades para aprender a pensar de
determinadas maneiras.
O valor de um objecto de estudo não está apenas correlacionado com a
sua presença no currículo; também é uma função da quantidade de tempo
que uma escola devota a esse estudo. De facto, a relevância de um dado
campo de estudo não se encontra nos testemunhos dos planificadores
escolares, mas (pragmaticamente) na quantidade de tempo que esse campo
de estudo recebe; e se na escola esse campo de estudo é ensinado diária
ou semanalmente.
Se a estas considerações adicionarmos as relações entre o que é
testado e o que é considerado importante, teremos então uma espécie
de guião para uma definição cabal do que é que efectivamente conta numa
escola (tradicional).
(Sabemos que o lugar das artes é ainda muito marginal e deficiente
no actual currículo escolar em Portugal. Há, portanto, um longo caminho a
percorrer, caminho esse que apenas só ainda se encontra no seu inicio…
uma caminhada faz-se dando um passo de cada vez...)
Por intermédio do acesso a determinadas experiências, e por intermédio dessas
experiências, as artes permitem-nos descobrir um conjunto e uma variedade
de tudo aquilo que somos capazes de sentir.
Algumas obras de arte têm a capacidade de nos colocar num “outro mundo”.
Normalmente consideramos excitantes aqueles dias em que nos deixamos
conduzir (e seduzir) por uma obra de arte. Tais experiências
estão muito afastadas do conhecimento armazenado que vemos
medianamente numa criança. Queremos ajudá-la como aprender
a ler – e a criar – tais imagens (ou performances). Em resumo,
queremos ajudá-la a adquirir as formas de literacia que lhe permitirão aceder
a tais obras de arte e ao gozo, prazer e proximidade que só elas tornam
possível.
Se isto é elitismo, então que expandamos a elite!
(Esta expressão não é minha é mesmo do Eisner, juro!)
Quando uma criança é convidada a definir o que é que sente a partir de
uma obra de arte, deverá ser considerada a sua capacidade poética de
encontrar as palavras que a ajudam nessa tarefa."Falar" de artes requer
a posse de algumas capacidades especiais àqueles que se dedicam a
esse trabalho. Pensemos, ainda que por um momento, acerca do que
nos é requerido para descrevermos as qualidades de um solo de jazz
saído do saxofone de John Coltrane, da superfície de uma pintura de
Bárbara Frankenthaler ou do carácter expressivo de um bronze de
Barbara Hepworth. O objectivo não é o de reproduzir em linguagem
as qualidades que estas obras possuem, porque essa "reprodução"
não é claramente possível. Trata-se antes de revelar, por intermédio
da linguagem, as qualidades da obra que são, elas próprias, inefáveis.
Portanto, o truque consiste em tentar comunicar o que não pode ser dito.
É aqui que podemos contar, entre os nossos maiores aliados, com a
intimação e a conotação. Também é aqui que a metáfora, a mais
poderosa das nossas capacidades linguísticas, pode vir em nossa ajuda.
Todas as formas de arte empregam determinados meios pelos quais
as imagens se tornam reais. Na música utiliza-se o som organizado,
na dança o movimento expressivo de um bailarino em movimento,
nas artes visuais uma forma sobre uma tela, um bloco de granito,
uma chapa de aço ou de alumínio; no teatro uma mistura complexa
de discurso, movimento e expressão. Cada uma destas formas de arte
utiliza determinados materiais que se impõem sobre outros, adaptando-se
a um determinado conjunto de constrangimentos. Exigem certas
capacidades, ao mesmo tempo que também providenciam
um conjunto de possibilidades.
Os materiais oferecem oportunidades distintas.
Para ter consciência dessas oportunidades, a criança deve ser capaz
de converter um material num médium. Para que isto ocorra, a criança
deve aprender a pensar com as possibilidades e os constrangimentos
de um material e a aplicar as técnicas que tornam possível a conversão
de um material num médium. Portanto, um material não é o mesmo do
que um médium e viceversa.
O material é a substância, (no caso da dança e do teatro: o corpo e a voz,
no caso da música: o som) com que trabalhamos. O médium é algo que medeia.
O que é que se medeia?
As escolhas,
as decisões,
ideias (emoções)
e imagens que um individuo tem.
O problema para qualquer criança
consiste na escolha do material adequado e pensar com os
constrangimentos e as possibilidades desse material, (utilizando uma
técnica adequada) a forma que uma determinada imagem (ou sentimento)
precisa de ter.
As artes ensinam os alunos a notarem que pequenas
diferenças podem produzir grandes efeitos
As artes relacionam-se com subtilezas. Dar atenção aos detalhes
não é normalmente um modo de percepção dominante no decorrer do curso
normal das nossas vidas. Nós normalmente vemos mais no sentido de
“reconhecer” em vez de explorar todas as “nuances” de um dado campo visual.
Quantos de nós já observou realmente a fachada da nossa própria casa?
Julgo que muito poucos? Um teste consiste em desenhá-la. Tendemos
mais a olhar a nossa casa ou para a nossa casa no sentido de sabermos
quando chegamos, ou para verificamos se necessita de ser pintada ou
para sabermos se está alguém em casa. Já menos comum é facto de olharmos
para as nossas casas no sentido de apreciarmos as suas qualidades visuais,
bem como as relações estabelecidas entre si.
As artes tornam presente o facto de que nem as palavras,
na sua forma literal, nem os números, esgotarem aquilo
que podemos saber sobre algo.
Dito de uma forma mais simples: os limites da nossa linguagem
não definem os limites da nossa cognição. A redução do conhecimento
ao quantificável e ao literal é, também, um preço alto que pagamos para
definirmos as condições do nosso conhecimento. O que chegamos a
conhecer por intermédio da literatura, da poesia e das artes,
em sentido lato, não são reduzidas apenas ao literal.
As artes ensinam às crianças que na resolução de formas complexas de problemas os objectivos raramente estão fixos à partida
Estes objectivos mudam com a circunstância e a oportunidade.
Aprender com as artes requer a capacidade e o desejo de
nos rendermos às possibilidades imprevisíveis do trabalho artístico
à medida que este emerge.
No seu melhor, o trabalho artístico não é um monólogo estabelecido
entre o artista e a sua obra, mas um diálogo.
É uma conversação com os materiais, pontuada com
todas as surpresas e incertezas que só uma conversação
realmente estimulante torna possível.
Nas artes o individuo procura a surpresa, que redefine
os objectivos que, por sua vez, se flexibilizam.
A intenção, mais do que imprimir num material aquilo
que já conhecemos, é a de descobrirmos aquilo
que ainda não sabemos.
Um das suas lições mais importantes é a de que há muitas formas
de ver e de interpretar o mundo. Esta também é uma lição que
raramente é ensinada nas nossas escolas.
O teste de escolha múltipla (por exemplo) é um caminho
para se chegar a uma única resposta correcta. Isto é o que torna o teste
“objectivo”. Não é objectivo no método de selecção dos conteúdos
a avaliar, é objectivo devido à forma como cada item avaliativo
é pontuado. Não é permitido, a quem elabora a pontuação de
um teste, o exercício de juízo crítico, razão pela qual qualquer
máquina poderia elaborar um teste.
As artes ensinam as crianças de que os problemas podem ter mais
do que uma solução e que as questões podem ter mais do que
uma resposta.
Se "actuarem" (dentro da escola), as artes favorecem a obtenção de uma diversidade
de resultados.
A standardização das soluções e a uniformização das respostas não é
uma virtude a alcançar nas artes. Enquanto os professores de uma boa parte
das disciplinas currículares não estão interessados na promoção
da ingenuidade do aluno, o professor de arte persegue-a.
As artes ensinam as crianças a fazerem bons juízos [judgments] acerca
de relações qualitativas.
Ao contrário da maioria do currículo, no qual prevalecem as respostas e as regras
consideradas correctas, nas artes é mais o juízo [judjement] que prevalece
sobre as regras.
Não pode ser negligenciado o modo como as qualidades inter-actuam, quer
pertençam a um espaço, ou a um som, à prosa ou à poesia, quer as vejamos num
movimento coreografado, a que chamamos dança, ou nas palavras e gestos
dos actores. São os meios pelos quais o trabalho artístico se torna expressivo.
O actual currículo escolar encontra-se pesadamente carregado com matérias que dão
aos alunos a ilusão de que o verdadeiro [rightness] significa o correcto [correctness] e,
desta forma, fazer as coisas correctas só depende do cumprimento da regra;
a oralidade, a aritmética e a escrita, tal como são normalmente ensinados, são
largamente miméticos ou sustentados por regras.
Não é o caso as artes. As artes procuram evidenciar-se na sua insistência de
que as “interacções” (entre o individuo e a matéria a que ele pode dar forma )
são centrais
e que aquelas que são boas são conseguidas quando a mente trabalha
ao serviço do sentimento.
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