Mais logo, a minha filhota mais nova começa sua escola formal
carregadinha de ilusões.
Nós, os pais, já começamos a sofrer, a listagem de materiais, a irritante plastificação dos livros, para a luta que aí vem, na crença estética de que as capas são as primeiras a "ir ao ar". E plastificadas, enfim, dão uma ar mais duradouro, eternizam o aspecto novo do livro. A imagem nova é muito importante na nossa cultura de consumo.
Quando estudava no secundário conheciam-se os preguiçosos pelo aspecto novo dos seus livros. Os tempos mudam.
Ah! E também se sofre com o preenchimento da papelada, alguma de duvidosa utilidade.(seis-documentos-seis!!!)
A uma pergunta "Com quem brinca a sua filha?", contida num circunspecto questionário, apeteceu-me responder: "Brinca com o Peter Pan, com o Noddy, a Branca de Neve, a Hello Kitty e todas as personagens que a escola não é capaz de oferecer, para mal dos seus pecados. É lixado chegar ao fim da ilusão, da magia e da fantasia. Agora é tudo a sério. Quer dizer...tudo cinzentão. Vá catraia. Aguenta-te
Espirra-se nas redondezas e...entra-se em pânico neste tempo esquizofrénico de medos catastróficos. Parece que a viragem do milénio, e o "fim do mundo" , tantas vezes pré-anunciado, chegou com uma década de atraso.
Os meios de comunicação ajudam a ampliar a angústia, vivem aliás dos medos colectivos. A gulosa indústria farmaceutica agradece a tão cautos homens. Dantes dava jeito que fosse a meningite, mas com tão poucas crianças nascidas em Portugal, havia que alastrar a coisa, enfim...massificando.
Cartazes informativos dão as "boas vindas" na Universidade e nos sítios públicos. Ponha a mão à frente, lave as mãos...com sabão azul. Etc.
Entretanto a malta continua a ir à bola, coma descontração do costume.
E alguns, à missa também. Aqui a vantagem é que se podee aproveitar para a confissão e preparar o "passamento" para uma vida que os cristãos (como eu) acreditam que será bem melhor do que esta.
Pode ser que me engane...mas esta gripe trás água no bico.
Depois da doença das vacas loucas, da gripe aviária, é mais uma para o rol das doenças com que a humanidade vai tendo consciência da sua pequenez e da sua incapacidade perante supostas forças do destino...com alguns negócios por detrás.
Entretanto, lá longe, na Guatemala, teme-se, não a gripe A, mas a fome. Em breve, lutaremos por uma pica para os nossos rebentos, e para nós próprios, a troco de uns gordos Euros. Claro está. Ouvi na rádio que os homens das vacinas dizem que dá um resultadão. Salvos. Ufa.
Apanho a linha verde na avinguda Paral.lel e os sons que escuto, do músico, com uma enorme barriga "de cerveja", proeminente, e da sua companhante, vestida de preto, como se fosse para uma festa, reavivaram-me imediatamente a minha estadia na cidade condal de há cerca de uma década atrás, destapando a capa com que o tempo vai tapando os detalhes das nossas vida, as coisas que julgáramos inúteis.
Lembro-me da forma como fui percebendo a "ocupação" tácita, entre os pedintes músicos da linha verde, as estações onde desciam uns e subiam outros, depois de algumas brigas (assisti a algumas...terríveis), para consquistar o seu espaço económico.
Uma guerra, afinal, idêntica à das pessoas comuns, só que travada noutros campos de batalha.
Como o tempo passa. O metro e o ar abafado permanecem os mesmos, nesta Barcelona de inícios de Setembro, que me brinda com um estranho clima tropical. Não admira que os brasileiros gostem tanto da cidade.
A música entoa pelo ambiente abafadiço. Sai de uma concertina vermelha, com uma ponta do fole arremendada com fita cola providencial e um som a precisar de instrumento novo.
E uma camada de surro que só visto, a esconder o vermelho vivo, sobre uma camada de patine ,a fazer lembrar a camada de fumos de vela que escondem as cores (que sabemos serem originalmente mais vibrantes) da pintura religiosa barroca.
Este também é um quadro religioso, onde a alegria "profissional" do músico faz, mesmo assim, tilintar umas moeditas numa lata de um conhecido refrigerante americano, reciclado em mealheiro ocasional.
Troc...troc...troc...para o peculio sofrido e agradecido com uma vénia, feita mesmo para os que não contribuiram, naquela carruagem de metro alienada. A pobreza é assim, por vezes magnanime no trato com os outros...e com a forretice. Artista deve fazer-se pagar.
Barcelona, 4 de Setembro de 2009
Leonardo Charréu
observador de gentes
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