Quinta-feira, 20 de Março de 2008

As "ideologias" da Educação Artística em Artes Visuais

Entendo a "ideologia" (que pode ser não política, em sentido lato) como a base e o sustentáculo profundo da crença (não necessariamente religiosa). Na nossa "ideologia" educativa assenta a  convicção pessoal de que se pode chegar a um ponto qualquer do conhecimento, do comportamento  e da expressão estética humana, e que para lá chegar há caminhos mais adequados e mais recomendáveis. O que importa, para além de efectivamente chegarmos, é chegarmos bem, quer dizer, em plena posse das faculdades, particularmente, as que nos tornam verdadeiramente humanos.

 

O discurso recorrente e as "ideologias" acerca do ensino das artes, a meu ver, e na opinião de muitos especialistas, tem-se entrincheirado à volta de dois princípios, A e B, directores fundamentais, frequentemente gladiadores, e que definem o perfil formativo das instituições ou, dentro de uma instituição, o dos seus professores:

 

A - Ensinar técnicas, e o "saber fazer". Enfim o tradicional pôr as mãos na massa. Alguns definem esta perspectiva com formalista-essencialista.Os anglo-saxónicos definem-na pela expressão "art for art sake" que quer dizer, mais ou menos, "a arte pela arte". Nesta corrente, tudo o que é planificação, disciplina, rotina (essa grande inimiga da criatividade) é mau. A arte é essencialmente a proposta impoluta de um autor e é como autoria que se deverá impor. Uma resposta expressiva individual à pulsão vital de uma época.

 

B -Ensinar estratégias de pensamento crítico, sobre os grandes temas transversais da humanidade (questões de género, raça, consumismo, ambiente, globalização, uniformização cultural, desigualdade e injustiça social, etc), que logo hão-de encontrar um vector técnico-tecnológico para se veicularem, nem que o "artista" tenha de pedir de empréstimo outras  tecnologias mais recentes ou assessoria a técnicos especializados (informáticos, sociólogos, neuropsiquiatras, etc.). nesta linha, o processo criativo individual - que vigorou durante milénios -é muitas vezes abandonado, sendo privilegiado o trabalho de equipa, bem como a distribuição de tarefas especificas. A autoria é repartida e até completada pelo apreciador.

 

Claro está de se ver, que ambas as ideologias arte-educativas implicam e requerem modelos mentais, comportamentais e, até, ético-políticos, que muitos entendem ser incompatíveis numa mesma pessoa.

 

Então a questão, está em saber, nesta época que alguns sociólogos já definiram como a do  "eu sem limites" e da "sociedade mosaico", em que medida o indivíduo está disponível, ou melhor, está preparado, para se flexibilizar, entre os dois princípios. A questão também está em saber se tal contorcionismo pode ser sustentado coerentemente na prática quotidiana.

 


publicado por ensinartes às 01:18
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