Segunda-feira, 13 de Outubro de 2008

O Brinquedo Azul (ou o Pirata da Barba Azul)

Um computador destinado a tirar as crianças portuguesas das trevas da ignorância vai ser “oferecido”, em larga escala, por este Portugal fora. Os comas em oferecido são de propósito, porque afinal, já sabemos, a factura vai ser enviada aos mesmos: a fustigada (e roída até ao tutano) classe média.

 

Imagine-se que se oferece um automóvel a um indivíduo. Até pode ser daqueles pequeninos, de chapa de matrícula amarela, que não precisam de carta de condução e que transportam milhares de reformados todos os santos dias, nos seus afazeres quotidianos…rum rum para o Lidl comprar farinha para os pintos…rum rum para o hospital, que esta dor nunca mais passa.

 

Pois se oferecemos um automóvel a alguém sem o ensinarmos a conduzir, esse usufrutuário nunca irá tirar partido da “oferta”.

Parece-me que se irá passar o mesmo com o célebre Magalhães.

Sem haver avaliação da capacidade docente em lidar com as novas tecnologias, nem a existência de um mercado de software específico, nem a identificação e avaliação de websites de reconhecido interesse educativo, dirigidos para pedagogia infantil, nem a confluência curricular entre conteúdos fundamentais de aprendizagem e os respectivos programas informáticos, então o Magalhães assemelhar-se-á a uma impotente e imóvel pedra azul, que as famílias exibirão, orgulhosas, em local visível da suas casas para impressionar visitas. Ora aí está um sinónimo de modernidade.

 

Quando daqui a vinte anos já não se assinar os BIs, por incapacidade caligráfica de dedos que se habituaram mais ao teclado do que ao lápis e à caneta, já será tarde demais. Passaremos a ter um código de barras atrás da orelha. O brinquedo azul cumpriu a sua impérfida missão e o seus responsáveis políticos já cá não estarão, ou se estiverem, alegarão insanidade mental…declarando-se convenientemente totós ou ché chés, sob o disfarce diáfano dos cabelos brancos (que já aparecem hoje nas respectivas cabecinhas).

 

O Fernão, Magalhães de apelido, esse herói incompreendido da primeira circum-navegação [corrigida circunvalação no orig.] marítima ao planeta, dará apenas mais umas voltinhas no seu túmulo. Afinal, nada a que não tivéssemos já acostumado os nossos heróis.Só variamos é nas desfeitas, cada vez mais sofisticadas.

 

PS: Diz o bom rigor histórico que Fernão de  Magalhães não teve túmulo, pelo menos daqueles sepulcros senhoriais, esculpido em pedra, com brasão de armas e com estátua jacente ou outra coisa do género. Morreu em combate numa praia perdida nas Filipinas e o seu corpo nunca foi recuperado. O mesmo que sucederá aos cerebrozinhos que se deixarem enredar pelo brinquedo azul…assim, sem mais nem menos.

 

 

 


publicado por ensinartes às 13:42
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